Textos


COM OLHOS DE ÓRBITA

 

Um pássaro com uma perna sem o pé ainda pode voar. Ainda que sem ele, galga vôos entre os galhos, entre os galhos e o chão. Afinal, ainda há asas.

 

Para o pouso, uma pequena imprecisão. Para a caminhada, um mínimo descompasso. Já para o vôo, um apuro alado absoluto acima de tudo.

 

Manca quando pisa, expressando a falta do pé. Mas marca-se mais quando voa. Rouba a cena, emprestando-lhe a pena, dando asas à imaginação e uma mão à inspiração. Pata essa que arranca e pega uma pena na asa do lado contrário ao pé que falta. Não sente pena. Afinal, é lhe devolvido o equilíbrio perdido. 

 

A perna deficiente toca um galho inexistente. E ali ele pousa, pára, paira... no aprumo das ausências do pé e da pluma.  

 

 

 

 

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Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 28/09/2020
Alterado em 10/02/2023
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