Textos


PROTAGOTISMO

 

Se na nuvem

há água…

 

Espere um pouco.

Espere um ponto.

Eu já fui para esse lado das reticências.

 

Permita-me,

agora,

ser dois pontos

seqüentes

.

.
.

cadentes.

O trema procria

ao cair.

 

Veio-me uma idéia aguda

—dessas de dar pontada—

de dar uma pontuada

e vi-me obrigado

a segui-la.

 

Se na nuvem

há água

e nisso

tem dois acentos agudos

seguidos,

é porque

já começou a precipitar.

E cada gota

gera quatro gotículas d’água oblíquas miúdas.

 

E de gotícula d’água oblíqua miúda

em gotícula d’água oblíqua miúda

forma-se a chuva,

com direito a um pingo irrelevante

e um apóstrofo no meio,

que se acha pomposo

pensando ser raio,

mas mal sai o som

de ribombo do trovão.

Ouve-se apenas um traço de ruído,

engolido pelo ponto

a que quero chegar,

em que o protagonismo

que

é

todo do rastro da gota,

que só o circunflexo

é capaz de deter.

Porém,

ele não apareceu

em lugar algum

até aqui.

A rotina

de deixar o guarda-chuva

por aí

e se abrigar

no primeiro telheiro

que se vê.

 

Choveu...
.
.
.

até encharcar o papel.

 

Mesmo assim,

deu tempo

—desses tempos que se vão—

de registrar o chuvisco de início,

antes do tempo

—desses tempos que se nuvem—

descarregar a chuva

quase que toda

num só momento e ponto

—era o ponto que eu via, ora,

e o momento que eu estendo até onde entendo, hora—,

ao que eu assisti

na providência

de um assento

antigo e esquecido,

pôsto num alpendre.

 

 

 

 

/-\|\||)/-\|_/-\(,)|_|||\/|

Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 26/08/2020
Alterado em 19/02/2023
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.