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A TRAMELA DA ALMA

 

Eu observava o semblante da senhora. Qual seria a face dela? Séria? Compenetrada? Parecia que tinha os olhos num lugar e o pensamento noutro. Divagante! Era a impressão que a expressão passava. De repente, algo lhe chamou a atenção, tirando-a dos dois lugares.

 

O semblante, antes fechado, abriu-se num sorriso feliz e fascinante de um riso fácil. Se é que há sorriso que não seja alegre e atraente. É que esse era arreganhado, que, apesar de se delimitar nos cantos e junções dos lábios, tomava conta da cara toda. Escancarado. Não havia mais espaço para a testa, olhos, nariz, bochecha e queixo. O sorriso, no rosto da mulher aldeã, num latifúndio contrastante e contraditório, apropriou-se de tudo, à mostra na superfície numa revelação profunda.

 

Diz-se que os olhos são as janelas da alma. Ela tinha a tramela destrancada e decorada com a fita cor-de-rosa da gengiva.

 

No semblante distante, eram dois lugares distintos. No sorriso presente, a garra e a graça femininas da camponesa.

 

 

 

 

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[foto]

quando: 29Nov2011

onde: Tanzânia, Kilimanjaro, Moshi Rural

por: Andalaquim

Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 27/07/2020
Alterado em 28/09/2022
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